sábado, 31 de maio de 2008

A surdez de Beethoven





























Nada é mais grave para um músico do que perder a audição.

Beethoven, um dos gênios da música, perdeu-a depois de ter feito belas composições.

Os recursos médicos ineficazes o levaram a uma profunda crise psíquica. Seus pensamentos agitaram-se como ondas rebeldes, sua emoção tornou-se um céu sem estrelas. Não havia flores nos solos da vida. Perdeu o encanto pela existência. Deixar de ouvir e compor músicas era tirar o chão de Beethoven. Cogitou, assim, no suicídio.

Mas algo aconteceu.

Quando todos pensavam que seus sonhos tinham sido sepultados pelo inquietante silêncio da surdez, surgiram sorrateiramente os mais espetaculares sonhos no árido solo da sua emoção. Ante sua condição miserável, ele decidiu superá-la.

Ou Beethoven se calaria diante da surdez ou lutaria contra ela e faria o que ninguém jamais fez: produzir músicas apesar de não ouvi-las. No entanto, apesar de surdo, ele aprendeu a ouvir o inaudível, aprendeu a ouvir com o coração. Não desistiu da vida; ao contrário, exaltou-a. Os sonhos venceram. O mundo ganhou.

Com indescritível sensibilidade, Beethoven compôs belíssimas músicas após a surdez. Entre outras atitudes, ouvia as vibrações das notas no solo. Compôs 'surdo' a 9ª Sinfonia.

A teoria da inteligência multifocal revela que as vibrações do solo produziam ecos na sua memória, abriam inúmeras janelas onde se encontravam antigas composições, que, por sua vez, eram reorganizadas, libertando sua criatividade e o fazendo compor novas e encantadoras músicas.

Quando no complexo teatro da mente humana há sonhos, os surdos podem ouvir melodias, os cegos podem ver cores, os abatidos podem encontrar força para continuar. Os sonhos tem o poder de nos levar a patamares impensáveis.

Quem dera fôssemos sonhadores.

*Maestro Milton Misejima (email)

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