sábado, 31 de maio de 2008

Beethoven Surdo

















Beethoven Surdo

Surdo, na universal indiferença, um dia,
Beethoven, levantando um desvairado apelo,
Sentiu a terra e o mar num mudo pesadelo...
E o seu mundo interior cantava e restrugia.

Torvo o gesto, perdido o olhar, hirto o cabelo,
Viu, sobre a orquestração que no seu crânio havia,
Os astros em torpor na imensidade fria,
O ar e os ventos sem voz, a natureza em gelo.

Era o nada, a eversão do caos no cataclismo,
A síncope do som no páramo profundo,
O silêncio, a algidez, o vácuo, o horror no abismo...

E Beethoven, no seu supremo desconforto,
Velho e pobre, caiu, como um deus moribundo,
Lançando a maldição sobre o universo morto!

Olavo Bilac












A surdez de Beethoven não era uma deficiência. Foi uma dádiva dos Céus. Incapaz de escutar as vozes exteriores, estava em condições de ouvir dentro de si próprio a voz de Deus.

Vitaly Margulis

Beethoven, mais do que um simples músico...






























Sem dúvida, não só um dos maiores músicos de todos os tempos, mas também um grande Homem. Apesar da surdez que o começou a atacar aos 24 anos, não foi por isso que deixou de construir um conjunto de grandes obras, e deixar a sua marca no campo musical. É realmente impressionante a simplicidade da sua música, onde poucas notas conseguem transmitir o que outros precisariam 10 vezes mais. Simplesmente recomendo.


Curiosidade sobre Beethoven:

Conta-se que um dia Beethoven foi visitar o irmão mais novo, Johann, que a essa altura era um homem rico. Na entrada da mansão, um criado ofereceu-lhe, numa salva de prata, um cartão de visitas onde estava escrito: "Johann van Beethoven, proprietário de terras". O compositor pegou o cartão e, instantes depois, devolveu-o ao criado, após escrever no verso do papel a seguinte anotação: "Ludwig van Beethoven, proprietário de um cérebro".

A surdez de Beethoven





























Nada é mais grave para um músico do que perder a audição.

Beethoven, um dos gênios da música, perdeu-a depois de ter feito belas composições.

Os recursos médicos ineficazes o levaram a uma profunda crise psíquica. Seus pensamentos agitaram-se como ondas rebeldes, sua emoção tornou-se um céu sem estrelas. Não havia flores nos solos da vida. Perdeu o encanto pela existência. Deixar de ouvir e compor músicas era tirar o chão de Beethoven. Cogitou, assim, no suicídio.

Mas algo aconteceu.

Quando todos pensavam que seus sonhos tinham sido sepultados pelo inquietante silêncio da surdez, surgiram sorrateiramente os mais espetaculares sonhos no árido solo da sua emoção. Ante sua condição miserável, ele decidiu superá-la.

Ou Beethoven se calaria diante da surdez ou lutaria contra ela e faria o que ninguém jamais fez: produzir músicas apesar de não ouvi-las. No entanto, apesar de surdo, ele aprendeu a ouvir o inaudível, aprendeu a ouvir com o coração. Não desistiu da vida; ao contrário, exaltou-a. Os sonhos venceram. O mundo ganhou.

Com indescritível sensibilidade, Beethoven compôs belíssimas músicas após a surdez. Entre outras atitudes, ouvia as vibrações das notas no solo. Compôs 'surdo' a 9ª Sinfonia.

A teoria da inteligência multifocal revela que as vibrações do solo produziam ecos na sua memória, abriam inúmeras janelas onde se encontravam antigas composições, que, por sua vez, eram reorganizadas, libertando sua criatividade e o fazendo compor novas e encantadoras músicas.

Quando no complexo teatro da mente humana há sonhos, os surdos podem ouvir melodias, os cegos podem ver cores, os abatidos podem encontrar força para continuar. Os sonhos tem o poder de nos levar a patamares impensáveis.

Quem dera fôssemos sonhadores.

*Maestro Milton Misejima (email)